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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Turismo e Quilombolas (I)


Foto da Dona Miguelina Maria de Lemos e Silva (falecida), quilombola símbolo da região que viveu em uma comunidade do interior de Mostardas.


Acredito que Mostardas tem várias vertentes turísticas. É possível aliar cultura açoriana, riquezas naturais, praias, culinária e artesanato. Na verdade, todos contribuem para uma grande estratégia que poderia estar delimitada através de um Plano Municipal de Turismo, fruto de uma Política Municipal de Turismo. Obviamente, que construído democraticamente, com ampla participação dos mais diversos atores sociais.
Acredito que os Quilombolas e suas características podem ampliar o potencial turístico da região, se for trabalhado uma concepção humanizadora a partir da sustentabilidade.
Na busca de soberania e auto preservação, negros libertários ocuparam, já a partir do final do século XVI, terras "sem dono", marginais à economia da época, distantes e ou de difícil acesso. Os isolamentos geográficos, econômicos e sociais das comunidades formadas, os quilombos, fizeram com que desenvolvessem estilo de vida peculiar, adaptada aos recursos ambientais existentes. Este estilo foi forjado da interação do negro com a natureza, sustentado pelo conhecimento e valores ancestrais da cultura africana, europeia, aborígine e dos mestiços que habitavam o Brasil da época.
A Fundação Palmares já identificou 743 comunidades remanecentes de quilombos existentes no Brasil, mas entidades e estudiosos do tema acreditam que este número pode estar entre 2000 e 5000. Até o presente, apenas uma minoria próxima de 30 destas comunidades receberam o título de suas terras, um direito assegurado na Constituição Federal. Enquanto o processo de titulação das terras segue o caminho demorado da burocracia, o governo e a sociedade devem atentar para o estado de pobreza, esquecimento e distanciamento do atendimento público em que se encontram as comunidades.
As comunidades quilombolas são detentoras de conhecimentos e elementos culturais representativos de um Brasil do passado, percebidos nas tradições religiosas, no respeito à família e nas formas tradicionais e coletivas de fazer, festejar e viver. A vida bucólica e o isolamento dessas comunidades possibilitaram a preservação de extensas áreas naturais, amostras de biomas importantes para a conservação da biodiversidade, hidrografia e da paisagem de muitas regiões do Brasil.
O status de patrimônio histórico-cultural, a importância econômica do saber, do fazer e do viver autóctone e da natureza preservada, as limitações naturais dos ecossistemas e das legislações ambientais, juntamente com o querer e o sonho dessas comunidades, devem embasar e nortear a formulação do modelo de desenvolvimento étnico sustentado para os quilombolas.
Jorge Amaro de Souza Borges
Biólogo

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