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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Cristóvão Pereira de Abreu (III)

O Rio Grande deve ao grande pioneiro das travessias de sua gleba, ao tropeiro inteligente e culto, o maior conhecimento de seu valor, de suas possibilidades e a iniciativa de criações de núcleos povoatistas ao longo das estradas que percorria.
Construtor do forte primeiro na barra do Rio Grande, por ordem de José da Silva Pais, concluiu-o a contento, dando demonstração de que também entendia de militança e de fortificações quanto à construção, pelo menos, pois agiu sozinho, orientado apenas pelo desenho que lhe fora entregue em São Paulo.
Mas não apenas no tocante aos primórdios do Rio Grande do Sul, muito se deve a Cristóvão Pereira, mas também, já o Rio Grande em franca elaboração povoatista, como, por exemplo, no caso da organização das forças para as demarcações de limites, no da remessa de sessenta soldados e um sacerdote para o Porto dos Casais, em 1753, por ordem de Gomes Freire e, finalmente na própria obra da demarcação, ao lado de Gomes Freire, suportando, ele e seus sertanistas, todo o peso dos rústicos trabalhos que eram exigidos.
Homem múltiplo, sempre presente onde a necessidade estivesse, trabalhando sem medir sacrifícios, Cristóvão Pereira de Abreu foi o verdadeiro anjo salvador de todas as situações difíceis. Ele foi, na realidade, o Condestável do povoamento e conquista do Rio Grande do Sul.
De sua gente, muitos se radicaram no solo gaúcho, em terras que receberam, e ele próprio, Cristóvão Pereira, recebendo alguns lotes em sesmaria, tentou radicar-se, mas não teve tempo de povoar aquelas terras que recebera, deixando, apenas, perpetuado seu nome nas margens da Lagoa dos Patos, na ponta de Cristóvão Pereira, onde hoje se encontra o farol de igual nome. Era ali, não longe da Lagoa de Mostardas, que acampava sempre que percorria a costa arenosa da barra do Rio Grande até Laguna.
Cristóvão Pereira de Abreu, sempre em atividade, faleceu na vila do Rio Grande, ao lado do forte de Jesus-Maria-José que construíra, a 22 de novembro de 1755, quando buscava repousar um pouco de suas ásperas caminhadas e árduos trabalhos iniciais das comissões de limites para execução do Tratado de Madri, de 1750 que, afinal, ficaram letra morta não apenas em consequência da resistência dos tapes na avançada hispânica para entrega das terras determinadas no tratado, a região missioneira, como pela felonia da diplomacia luso-espanhola, em especial espanhola, na solução do caso. E o Rio Grande do Sul, voltando a ser o que era antes, passou, anos mais tarde, pelo Tratado de Santo Ildefonso, 1777, a pertencer em mais da metade novamente à Espanha. Mas, aí, quase definido como tal, conquistando o que de direito lhe pertencia desde os primórdios, dando ao pago as formas que hoje tem, e que Cristóvão Pereira de Abreu, em sua grande visão de patriota, prognosticara, por ela se batendo em suas constantes entradas, conforme se verifica de sua atividade geral constante, em parte, de sua correspondência oficial.
E Cristóvão Pereira não tem, ainda, uma herma sequer, no Rio Grande do Sul. Nem ele, nem Borges do Canto, nem Santos Pedroso e outros grandes pioneiros e fronteiros que foram os alicerces da fundação e da formação deste nosso Rio Grande do Sul, sentinela avançada do Brasil no extremo sul, desde o século XVII.
Historiadora Marisa Oliveira Guedes.

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