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sábado, 20 de novembro de 2010

Comunidade da casca tem titularidade da terra reconhecida



Descendentes de um grupo de 23 escravos alforriados vão receber hoje, Dia da Consciência Negra, o título de propriedade da fazenda onde seus antepassados viveram e trabalharam. Após mais de uma década de tramitação, o processo de reconhecimento da posse do chamado Quilombo Casca realizará o sonho de 85 famílias que vivem no local. Esta será a terceira área quilombola do Estado a ser titulada, a primeira em zona rural.

Um desejo manifestado em testamento quase 200 anos atrás será finalmente atendido hoje, no município de Mostardas, na região litorânea. Descendentes de um grupo de escravos vão ganhar o título de propriedade da fazenda onde seus antepassados trabalharam e que receberam como herança da antiga dona em 1824. Será a primeira comunidade quilombola em área rural a contar com registro de posse no Rio Grande do Sul.

A história de dois séculos que envolve a regularização do terreno de 2,3 mil hectares, simbolicamente concluída no Dia da Consciência Negra, teve início quando a proprietária, Quitéria Pereira do Nascimento, decidiu beneficiar seus escravos. Quitéria era casada com Francisco Lopes de Mattos, com quem não teve filhos. Segundo relatos dos descendentes, embora o casal tivesse escravos, não os tratava como tal.

— Os dois eram muito religiosos. Consideravam nossos antepassados como pessoas que trabalhavam para eles. Vários até tinham casas para morar — conta a aposentada Ilza de Matos Machado, 68 anos, moradora da região e responsável pelo conselho fiscal da comunidade quilombola de Casca, como a área localizada junto ao km 95 da RST-101 é conhecida.

Já viúva, Quitéria se mudou para Porto Alegre e deixou os 23 empregados negros vivendo na antiga sesmaria. Doente, antes de morrer decidiu registrar em testamento a decisão de dar aos escravos a liberdade e a posse da terra onde viviam — 64 anos antes da abolição da escravatura no país. Apesar da intenção da fazendeira, o benefício jamais resultou em um registro em cartório. A área foi invadida inúmeras vezes nas décadas e nos séculos seguintes, e os moradores precisaram conviver com a ameaça de serem expulsos do terreno.

Essa situação vai mudar às 11h de hoje, 186 anos após a elaboração do testamento, com a entrega do título de propriedade dos primeiros 1,2 mil hectares do total de 2,3 mil. O restante está em processo de desapropriação.


Condições modestas

Autoridades esperadas para a cerimônia, como o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Rolf Hackbart, vão encontrar cerca de 250 pessoas vivendo em condições modestas. Contam com água e luz, os mais velhos vivem do dinheiro da aposentadoria como agricultores, mas boa parte dos mais jovens se vê obrigada a trabalhar em outras fazendas para sobreviver. O plantio próprio de variedades como milho e batata serve apenas à subsistência.

Faltavam condições de cultivar lavouras rentáveis, como arrozais. Há pouco mais de um ano, apenas, receberam equipamentos como trator e debulhadora de milho. Outras famílias preferiam arrendar o terreno, o que a partir de agora fica proibido.

— Temos intenção de formar uma cooperativa e dar início ao plantio de arroz. Mas o mais importante é que agora teremos um documento para deixar para nossos filhos e netos dizendo que essa terra tem dono — afirma o presidente da Associação Comunitária Dona Quitéria, o agricultor aposentado Diosmar Lopes da Rosa, 82 anos.

A tentativa de regularização ganhou força em 1999, com a organização dos moradores em uma associação, e em 2001, quando receberam o reconhecimento como comunidade quilombola por parte da Fundação Cultural Palmares. A Casca foi uma das primeiras áreas de remanescentes de quilombos do Estado a conseguir esse reconhecimento, o primeiro passo para obter o registro de propriedade. O último será dado hoje, quando o sonho registrado em testamento há dois séculos sair do papel.

A comunidade gaúcha de Casca será a terceira área remanescente de quilombo no Rio Grande do Sul a receber esse título. As outras duas estão em Porto Alegre e Canoas.

— Representa uma maior visibilidade da história da comunidade negra que se encontra no Rio Grande profundo e, muitas vezes, é invisível. Dá perspectiva de acesso a políticas públicas — avalia Ubirajara Toledo, coordenador-executivo do Instituto de Assessoria às Comunidades Remanescentes de Quilombos do Rio Grande do Sul.

A reportagem é do Jornal Zero Hora. Leia a íntegra aqui.

27 comentários:

LS disse...

Que horror estão entregando a terra para essa gente, dando documento. E agora, como vão conseguir lograr eles e se apossar das terras. Onde vão buscar gente para trabalhar a troco de nada. Que horror, estão subvertendo a ordem natural das coisas.

Anônimo disse...

AO COMENTÁRIO ACIMA OS MORADORES DE CASCA NÃO SÃO ESSA GENTE, PENA QUE NÃO DISSE O NOME. QUE PROCESSO PARA MORRER PRESO (A). DEPOIS NA SEQUENCIA DO COMENTÁRIO TEM ALGO COERENTE COMO? TIRAR AS TERRAS E COLOCAR OUTRAS PESSOAS. MAS VAMOS TRATAR ESTE ASSUNTO E AS PESSOAS COM RESPEITO. BEM SE DIZ QUE EM MOSTARDAS O RACISMO CORRE SOLTO.

Anônimo disse...

É lamentável que nos dias de hoje existam pessoas que quando mencionam o seu semelhante os tratam de "essa gente" . A história da Maria Quitéria é algo muito a frente do seu tempo, pois 64 anos antes da Lei Áurea a mesma alforriou seus escravos deixando suas terras como gratidão. Mostardas e seus moradores devem ter orgulho da CASCA, é algo bonito de ser contado, e quando tiverem oportunidade leiam o testamento da Maria Quitéria na Casa de Cultura de Mostardas, e deem a importancia que o fato merece. LF Silva.

LS disse...

Pessoal não levem o meu comentário a sério. Era uma ironia e provocação ao pensamento de alguns que nunca irão expor publicamente suas ideias. Com a regularização das terras quilombolas se dá fim a um longo processo de exploração e apropriação de suas terras. Uma grande conquista não só de mostardas, mas de toda a sociedade.

Jaci disse...

Achei o primeiro comentário muito de mau gosto ou infeliz mesmo.

Mariangela Verardi de Souza disse...

Quem, ao longo dos últimos vinte anos trabalhou na educação dos descendentes de quilombolas, principalmente de Casca, pode perceber o quanto foi importante o ato de entrega do documento da terra, que a eles pertence por direito. Mais do que tudo, nesses anos temos visto uma melhora na auto-estima dos negros, inclusive no olhar, que nos mais jovens, não é baixo. Como educadora, fico muito orgulhosa, como cidadã, muito feliz, como mulher, bem, o pioneirismo de Quitéria é mais do que exemplo. Mais uma vez, nós, mostardenses por nascimento ou por adoção, devemos nos orgulhar de nossa terra e de nosso povo.
Mariângela Verardi

Anônimo disse...

Adorei o primeiro comentário, é ironia pura. E concordo contigo que tem muita gente pensando assim.

Anônimo disse...

Parabéns a Mariangela Verardi, comungo com tudo o que ela disse.

Nilson disse...

Parabéns a Mostardas! Fiquei muito curioso para conhecer o testamento de Quitéria.
Quanto à ironia do primeiro comentário: o fato de alguns leitores terem pensado que era uma manifestação "séria" mostra o quanto seu conteúdo reproduziu com fidelidade o pensamento de muita gente que a gente vê por aí ....

Anônimo disse...

Muito bom o primeiro comentário,teve gente que não entendeu.Ironia pura.

Juca disse...

Na câmara de vereadores muito pouco sobre o grande evento da casca e o dia da consciencia negra, mas para a troca de baixaria sobrou tempo pelo comentário que saiu.

Anônimo disse...

Eu, enquanto professor, gostaria que fosse respeitada a Lei Federal 10639 de 2003 que determina o estudo da África e da contribuição dos afro-descendentes na história do Brasil, do RS e de Mostardas. Gostaria que tal lei estivesse dentro dos currículos escolares de nossas escolas, já que nosso município possui três comunidaes quilombolas: Casca , Colodianos e Teixeiras. Além do fato da enorme contribuição da etnia negra na formação histórica, econômica, social, cultural, religiosa de nosso município. Também sou a favor de que o 20 de Novembro faça parte do calendário escolar do município pelas razões citadas e pelo próprio cumprimento da Lei Federal 10639. Em relação a titulação das terras da comunidade quilombola de Casca nada mais justo pela luta histórica destes quilombolas que estão, por mais de 180 anos, lutando pelos seus direitos e contra sua aceitação em uma sociedade racista, como é a nossa. Contra toda a forma de discriminação e por uma sociedade mais justa e fraterna. Professor Cláudio Costa.

Anônimo disse...

não esquente a cabeça professor Claudio ja conheces bem Mostardas, sabes como eramos antes e o que somos hoje, é drogas, crimes e vilas ja estamos na civilização da aprendizagem. E parabéns pela desempenho em seus trabalhos em relação aos negros mostardenses sei que não és demagogo.

Anônimo disse...

O professor Cláudio tem um bom trabalho junto aos negros. Ele e o professor Alvaro parecem ser os profrs que trabalham a questão dos negros em Mostardas.

Anônimo disse...

Ele apareceu de repente postando como o defensor dos pobres e comprimidos mas votou no Marne e fez campanha. Será porque foi convidado a concorrer pelo PDT.

Anônimo disse...

Mas sou realmente um defensor dos pobres,pois sou um deles, ficar pagando de defensor dos poderosos, sinceramente, não é para mim. Sou pobre, operário , servidor público e consciênte de meu lugar na sociedade em que atuo como cidadão. Em relação a votar no Marne foi como votar no mais qualificado no momento eleitoral que o município passava. Também era consciênte do que estava fazendo mesmo sabendo da perpectiva que nada ia mudar, mas entre um grande latifundiário e um pequeno burguês, fiquei com o último,. Em relação ao PDT acredito que seu programa estatutário é coerente com aquilo que penso e acredito na transformação de uma sociedade mais justa, diferente e fraterna. Uma saudação a todos que lutam por novo Brasil! Professor Cláudio Costa.

Anônimo disse...

PDT coerente, hum, está em tudo que é governo, é o partido da boquinha. Te convidaram só para tentar tirar votos do Álvaro, acorda.

Anônimo disse...

Anonimo do dia 27/11 às 14;46, ainda bem que nem todo mundo é tonto. Concordo contigo quanto ao objetivo do convite. Mas enquanto a direita se une os DEMAIS, se engalfinham. Coerência é pouca e bobagem nesta terra de Antonios e Marnies. Desculpa, estava esquecendo de nós, os Manes.

Anônimo disse...

Repito aqui, que vale mesmo é a prática como professor, de palavras bonitas e teorias vãs, estamos enjoados.

Anônimo disse...

Vocês, anônimos(27/11- das 14:46 e15:47) queimam o professor Cláudio. Nos negros e negras conheçemos o trabalho dele. Desde que veio trabalhar aqui no município vem participando de quase todos os eventos relativos as comunidades negras . Além disso quase todos os anos realiza o evento do 20 de Novembro na escola municipal da Solidão e, se não me engano, foi um dos responsáveis pelo projeto da Semana da Consciência Negra no 11 de Abril. Tem a aceitação, o respeito e a admiração de todas as comunidades quilombolas. Valoriza nossa cultura, nossas festas religiosas, nossos encontros das comunidades quilombolas da região(inclusive estava presente no dia 13 de novembro de 2010, na comunidade das Capororocas).Pergunto: onde estavam estes anônimos? Quem sabe fazendo alguma piadinha sobre os negros! Obs. Por que a sessão do dia 22 de novembro de 2010, na Câmara de Vereadores de Mostardas não fez nenhuma menção ao 20 de Novembro e ao evento da Casca ocorrido nesta data? Muitos de nossos ilustres representantes do executivo, legislativo e, quem sabe, anônimos de plantão estiveram lá! Reflitam e escrevam anônimos "Manes".

Anônimo disse...

Para o anônimo do dia 29/11 17:49 e a toda comunidade negra do município de Mostardas ofereço uma poesia de Oliveira Silveira

Encontrei minhas origens

Encontrei minhas origens
Em velhos arquivos
Livros

Encontrei
Em malditos objetos
Troncos e grilhetas

Encontrei minhas origens
No leste
No mar em imundos tumbeiros

Encontrei
Em doces palavras
Cantos

Em furiosos tambores
Ritos

Encontrei minhas origens
Na cor de minha pele
Nos lanhos de minha alma

Em mim
Em minha gente escura
Em meus heróis altivos

Encontrei
Encontrei-as, enfim
Me encontrei.

Professor Cláudio Costa

Anônimo disse...

Isso se chama inveja!!
Mas gosto disso pq ninguem inveja os feios e ninguem odeio os fracos!!
Ao primeiro comentario você é um invejoso!!
Você tem inveja pois garanto que não tem a mesma força que a comunidade de Casca teve para chegar onde chegou!!

Anônimo disse...

A comunidade da Casca está de PARABÉNS e pronto!!! O resto há o resto são invejosos e incapazes de fazer algo de bom e por isso tentam denegrir o que de bom os outros fazemmmm...

Anônimo disse...

Não sou muito do Tadeu do sindicato, mas tudo isso que aconteceu na casca ele tem uma grande parcela nisso, tenho que reconhecer o seu mérito pelos pequenos do município.

Unknown disse...

ola pessoal gostaria de saber se alguem sabe algo a respeito a praia mar verde no municipio de mostardas ou condominio mar verde ou verde mar pois meu pai ando pegando em negocio um tereno nese lugar pois gostaria de saber onde e mais coisas a respeito e tal eu sou de bento gonçalves rs desde ja agradeso se alguem me ajudar

Jani disse...

Oi Pessoal,
também gostaria de obter maiores informações sobre o Condomínio Mar Verde - Cidade Balneária, em Mostardas. Meu pai comprou um terreno por volta de 1987, em Convênio com ABSDAER. Como posso ter maiores informações? Meu contato é: mapremjani@hotmail.com

Desde já, agradeço.

Tânia Freitas

collares disse...

Olá
Sou Professora da rede municipal de São José do Norte, desenvolvo, com algumas colegas, também de Rio Grande, Projetos voltados para as contribuições que os negors trouxeram para a nossa cultura. Gostaríamos de visitar territórios quilombolas e levar nossos alunos. Sabem de algum que esteja aberto à visitação? meu email é: collares.jdc@gmail.com