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domingo, 31 de janeiro de 2016

O que Mostardas nos ensina?


Imagem: Divulgação
Há exatos vinte anos sai de Mostardas para estudar em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre. O pequeno município do litoral sul, localizado entre o oceano Atlântico e a lagoa dos Patos, tem essa característica – um fluxo intenso de jovens que buscam fora de seus limites, oportunidades no estudo e no trabalho. Tão jovens e esperançosos...
Longe de suas famílias, amigos e meio social, partem... Mas quase sempre voltam... E trazem consigo experiências, olhares e novas percepções da realidade, do mundo e da vida...

Nestas duas décadas de idas e vindas, presenciei com aflição grande parte de minha geração morrer, ser presa ou deixar de acreditar... Vi e vivi muitas dores e tristezas... Talvez algumas alegrias... E a culpa é de quem? Há momentos em que nos perguntamos – o que é de fato ser humano? Talvez esteja procurando uma resposta para entender uma dor individual e coletiva que torna alguns mais humanos que outros...
A principal marca de Mostardas era a condição de ser uma cidade pacata, tranquila, serena. Será? As desigualdades, associadas a um longo período sem políticas públicas para os jovens fizeram com que a violência ficasse exposta como um problema a ser colocado na agenda. Jovens não seriam humanos suficientes para ter atenção social?

Talvez não exista uma única resposta que possa me guiar a algum lugar. Mas podemos tentar pensar juntos! Vamos ouvir nossos jovens? E que tal se tentássemos compreender o processo histórico estabelecido e a partir de suas falas, identificando assim elementos mais abrangentes para enfrentar este dilema e construir políticas efetivas de juventude? A violência fascina, corrói, destrói... É produto de uma série de fatores sociais, políticos, éticos e morais. Portanto, complexa em todas as dimensões... Temos que sair do senso comum...
Mostardas chora um luto que talvez jamais cicatrize... O recente e brutal assassinato de dois jovens, o que para muitos, será apenas dados para estatísticas, para as famílias e os amigos, as lembranças e o peso da ausência jamais serão esquecidos! E para a cidade o que fica? Se no primeiro momento, estamos todos perplexos, não seria hora de repensarmos o real sentido de nossa humanidade e expressar isso em atitudes cidadãs?

O que podemos aprender com nossas dores? Como dizia Renato Russo, há tempos são os jovens que adoecem. E há tempos tenho sonhos... Que tal uma Mostardas melhor, com seus jovens podendo ter um presente e um futuro que não seja mais do mesmo? Mas as lágrimas insistem em aparecer, pois sei que muitos deles, partiram cedo demais... A nossa luta agora, é pelos que ficam... Que a dor de Mostardas nos ensine algo e nos ajude a ser melhores... Em todos os sentidos...

Jorge Amaro de Souza Borges
Doutorando em Políticas Públicas - UFRGS

Um comentário:

Anônimo disse...

Discordo em parte quando citastes que os jovens"quase sempre voltam...". Empiricamente observo que quem volta, ou possui capital (agronegócio ou comércio familiar) ou retorna para a administração pública. Esses comentados são minoria, portanto acredito que o ideal seria "nem sempre voltam".

Mostardas, há muito, não proporciona oportunidades para o regresso desses jovens que buscam qualificação em outras cidades. E o que dizer para os que por algum motivo não conseguem buscar essa qualificação? Infelizmente, acabam expostos à violência e à marginalidade.