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Há
exatos vinte anos sai de Mostardas para estudar em Viamão, na região
metropolitana de Porto Alegre. O pequeno município do litoral sul, localizado
entre o oceano Atlântico e a lagoa dos Patos, tem essa característica – um
fluxo intenso de jovens que buscam fora de seus limites, oportunidades no estudo
e no trabalho. Tão jovens e esperançosos...
Longe
de suas famílias, amigos e meio social, partem... Mas quase sempre voltam... E
trazem consigo experiências, olhares e novas percepções da realidade, do mundo
e da vida...
Nestas
duas décadas de idas e vindas, presenciei com aflição grande parte de minha
geração morrer, ser presa ou deixar de acreditar... Vi e vivi muitas dores e tristezas...
Talvez algumas alegrias... E a culpa é de quem? Há momentos em que nos
perguntamos – o que é de fato ser humano? Talvez esteja procurando uma resposta
para entender uma dor individual e coletiva que torna alguns mais humanos que
outros...
A
principal marca de Mostardas era a condição de ser uma cidade pacata,
tranquila, serena. Será? As desigualdades, associadas a um longo período sem
políticas públicas para os jovens fizeram com que a violência ficasse exposta
como um problema a ser colocado na agenda. Jovens não seriam humanos
suficientes para ter atenção social?
Talvez
não exista uma única resposta que possa me guiar a algum lugar. Mas podemos tentar
pensar juntos! Vamos ouvir nossos jovens? E que tal se tentássemos compreender
o processo histórico estabelecido e a partir de suas falas, identificando assim
elementos mais abrangentes para enfrentar este dilema e construir políticas
efetivas de juventude? A violência fascina, corrói, destrói... É produto de uma
série de fatores sociais, políticos, éticos e morais. Portanto, complexa em
todas as dimensões... Temos que sair do senso comum...
Mostardas
chora um luto que talvez jamais cicatrize... O recente e brutal assassinato de
dois jovens, o que para muitos, será apenas dados para estatísticas, para as
famílias e os amigos, as lembranças e o peso da ausência jamais serão esquecidos!
E para a cidade o que fica? Se no primeiro momento, estamos todos perplexos,
não seria hora de repensarmos o real sentido de nossa humanidade e expressar
isso em atitudes cidadãs?
O
que podemos aprender com nossas dores? Como dizia Renato Russo, há tempos são
os jovens que adoecem. E há tempos tenho sonhos... Que tal uma Mostardas
melhor, com seus jovens podendo ter um presente e um futuro que não seja mais
do mesmo? Mas as lágrimas insistem em aparecer, pois sei que muitos deles,
partiram cedo demais... A nossa luta agora, é pelos que ficam... Que a dor de
Mostardas nos ensine algo e nos ajude a ser melhores... Em todos os sentidos...
Jorge Amaro de Souza Borges
Doutorando em Políticas Públicas -
UFRGS